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A verdade dos fatos
Com empresa de fachada, deputados eleitos desviaram R$ 1,5 milhões e compraram votos, afirma PF

A prisão do deputado federal eleito e presidente regional do PRB, Manoel Marcus e da deputada estadual reeleita, Juliana Rodrigues (PRB), foi o ponto final em uma organização criminosa que segundo a Polícia Federal, desviou R$ 1,5 milhões do Fundo Partidário nas eleições desse ano.

O esquema foi desmontado pela PF na operação ¨ Santinhos¨, deflagrada ontem em Rio Branco e Manaus(AM), e resultou na prisão de mais cinco pessoas, todas preventivamente.

Durante entrevista coletiva na Superintendência da PF em Rio Branco, o delegado Eduardo Augusto Maneta, responsável pela operação e o procurador regional eleitoral substituto Vitor Hugo Caldeira Teodoro, explicaram como funcionava o esquema e quais medidas serão adotadas para evitar que os eleitos sejam diplomados.

Empresa de fachada usada para lavagem de dinheiro

Segundo a investigação da PF, por orientação do vereador e deputado federal eleito Manoel Marcus, foi aberta em 2017 a empresa ML Serviços (EIRELE), registrada em nome de um laranja¨ para operar o esquema financeiro.

A empresa era operada por Taisson de Souza Maciel, homem de confiança do deputado, responsável pelas operações financeiras fraudulentas.

A conta da empresa foi usada para depósitos e saques vultuosos, que segundo a PF, foram usados para compra de votos e para destinar dinheiro para os políticos.

Taisson depositava cheques na conta da empresa e efetuava saques constantes com valores sempre abaixo de R$ 50 mil, para não chamar a atenção do órgão do controle de movimentações financeiras.

Nos registros obtidos pela PF, Taisson sacou no dia 3 de setembro R$ 250 mil em espécie, que foram guardados em uma mochila. No dia 3 de outubro ele voltou ao banco e sacou R$ 168 mil.

No dia seguinte repetiu a operação e dessa vez tirou da conta da empresa R$ 103 mil. No dia 5, último dia útil antes da eleição, o operador retirou R$ 220 mil. Nos três dias anteriores a eleição ele sacou exatos R$ 494 mil.

Ele fracionava os saques para não ser detectado pelo sistema. Esse dinheiro foi usado para compra de votos e parte ficou com os investigados. Taisson era homem de confiança dos eleitos e as provas mostram o que foi levantado durante a investigação¨, disse o delegado Eduardo Maneta.

Ainda de acordo com a PF, os recursos foram oriundos do Fundo Partidário e desviados para a conta da empresa de fachada para beneficiar os políticos eleitos.

Nomeação em gabinetes desde 2013

Taisson Souza Maciel circulava entre os gabinetes de Manoel Marcus e Juliana Rodrigues desde 2013. Naquele ano, ele foi nomeado como assessor na Câmara de Vereadores e no ano seguinte, lotado na Assembleia Legislativa em funções onde o salário sempre era o mais alto entre os integrantes do gabinete.

Governador e secretário terão que explicar nomeação

A PF apurou ainda que em agosto desse ano, Taisson de Souza Maciel e sua esposa, Miriam Maciel, foram nomeados em cargos comissionados em duas secretarias do governo do Acre.

Taisson na Secretaria de Pequenos Negócios e Miriam na Saúde. O delegado Eduardo Maneta disse que os secretários das pastas e o governador Tião Viana (PT), serão intimados a prestarem depoimentos na condição de testemunha e explicar porque o casal foi nomeado, 60 dias antes da eleição.

¨ Queremos saber qual a relação entre a nomeação do casal e o esquema investigado¨, justificou.

PRB usou candidatas para encobrir desvios

Para preencher os 30% das candidaturas femininas exigidas pela legislação eleitoral, o PRB no Acre usou nomes de mulheres cujas famílias sequer sabiam das candidaturas. A investigação da PF aponta que o partido adotou a prática para ter acesso ao dinheiro do fundo partidário e aumentar a conta, porém esse recurso não foi empregado na campanhas das mulheres, mas repassado para a conta da empresa fantasma.

¨ São cinco mulheres que foram usadas no esquema. Juntas, elas tiveram oito votos. Teve uma que obteve apenas um voto. A família de todas elas sequer sabiam que eram candidatas¨, esclareceu o delegado, afirmando ainda que todas foram convocadas a prestarem esclarecimentos.

Procurador vai pedir que eleitos não sejam diplomados

Com base nas robustas provas apresentadas pela PF, o procurador regional eleitoral substituto, Vítor Hugo Caldeira Teodoro, disse que vai ingressar na justiça com uma ação de investigação judicial eleitoral, onde vai pedir que os eleitos não sejam diplomados.

Segundo ele, o pedido tem por base os crimes de compra de votos, desvio de recursos públicos e organização criminosa explícitos na investigação.

Ainda de acordo com Teodoro, caso a justiça acate a ação, os votos que elegeram os investigados seriam destinados ao segundo colocado do partido. Aí surge um porém que deve abrir uma briga na justiça eleitoral: Manoel Marcus foi o único candidato a deputado federal do PRB. No caso de Juliana Rodrigues, os votos seriam destinados ao atual deputado estadual André da Droga Vale, derrotado na eleição.

Funcionário do Banco do Brasil escondeu dinheiro na cueca

Em um dos vídeos disponibilizados pela PF, que fazem parte da investigação, um funcionário do Banco do Brasil foi flagrado escondendo na cueca, parte do dinheiro sacado por Taisson de Souza em uma das operações.

Segundo a PF, toda vez que ia ao banco Taisson era atendido pelo mesmo funcionário. Numa dessas vezes, o funcionário levanta para buscar um pacote de dinheiro e esconde dentro da roupa durante um descuído de Taisson.

Esse funcionário foi conduzido á sede da PF para prestar depoimento e esclarecer a atitude flagrada pelas câmeras de segurança do banco.

Diretor do Procon preso na operação

Diego Rodrigues, diretor do Procon/Acre filho da deputada estadual Juliana Rodrigues, também foi preso na operação Santinhos. Ele aparece em imagens onde o operador do esquema Taisson de Souza, conta dinheiro para distribuir entre Manoel Marcus e Juliana Rodrigues.

Diego já havia sido preso pela PF no dia da eleição. Na ocasião, ele foi detido com R$ 1 mil, uma arma e santinhos da mãe e do pastor em um carro. O irmão dele também foi preso na operação. Com ele a PF encontrou durante o cumprimento de mandado de busca, uma arma e munições.